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Desordem e Regresso: A polarização impede o diálogo e o progresso

A polarização política, um fenômeno que se intensificou nos últimos anos, é fruto de uma complexa teia de fatores sociais, educacionais, tecnológicos e geracionais. Os mais progressistas querem que tudo mude da noite para o dia, uma pressa imensa. Feministas e antirracistas, por exemplo, acreditam que suas causas precisam avançar, para que diferenças de gênero e etnia parem com a matança.

Por outro lado, essa pressa por mudança faz com que as pautas não sejam bem compreendidas pela população. Afinal, a maior parte do povo vive com o mínimo necessário. Quando falta o mínimo, não sobra tempo para analisar e entender a origem das desigualdades ou as estruturas sociais que as mantem.

Com a tecnologia da internet e a globalização como sua consequência, os algoritmos transformaram bolhas em muralhas, que separam as pessoas. Sendo assim, informações compatíveis com a opinião de alguém passam a reunir outras pessoas que concordam com a mesma ideia. Dessa forma, parece que todos concordam, sem que haja um dialogo ou consenso, de fato. Ou seja, diferente do que muitos acreditam, as redes não são um reflexo direto da sociedade.

E assim, essas bolhas de crescente afastamento entre os extremos ideológicos, não apenas deixam de se comunicar, mas também afastam aqueles que ocupam posições moderadas. O que gera um cenário de inércia social e política.

Educação política é necessária no Brasil

A falta de educação social e política desempenha um papel central nesse contexto. No Brasil, os governos negligenciam a educação política historicamente, resultando em uma população que, em sua maioria, não tem as ferramentas para o debate informado e crítico. O que, por sua vez, leva à baixa da representatividade popular no processo eleitoral. E pior, votos mal informados ou guiados pela manipulação midiática.

Essa lacuna educativa fomenta a adoção de narrativas simplistas de “nós contra eles”, e essa se torna a única forma de enxergar o mundo. Os extremos, alimentados por essa visão reducionista, veem o outro lado como inimigo, impossibilitando qualquer diálogo construtivo.

Os moderados, por sua vez, se veem diante de um debate tão polarizado que, muitas vezes, optam pelo silêncio ou pela desilusão, afastando-se da arena política.

Para aprender a usar uma tecnologia, não seja ferramenta dela

A tecnologia, em particular as redes sociais, amplifica e solidifica essa polarização. Plataformas como Facebook, Twitter e Instagram foram projetadas para maximizar o engajamento. Ou seja, priorizam o conteúdo que provoca reações emocionais intensas. Nesse ambiente, a raiva, o medo e a indignação se tornam as emoções predominantes, empurrando os usuários para bolhas de informação onde suas crenças são constantemente reafirmadas. Enquanto isso, opiniões divergentes passam a ser vistas como ameaças, que devem ser eliminadas.

Essa dinâmica não apenas reforça a polarização, mas também cria uma ilusão de consenso dentro dessas bolhas, fazendo com que os extremos se tornem cada vez mais rígidos em suas posições. Consequentemente, os moderados, que poderiam atuar como pontes entre as facções opostas, são incapazes de competir com o volume e a intensidade do discurso polarizado.

As gerações mais jovens, nativas digitais, estão mais expostas à radicalização online. Entretanto, as gerações mais velhas, que ainda não se habituaram à tecnologia, podem acreditar facilmente em informações inverídicas de fontes pouco confiáveis. Em geral, os mais experientes tendem a ser influenciados por diferentes fontes de mídia e têm outras referências culturais e políticas.

A barreira da linguagem

A linguagem desempenha um papel crucial nesse processo de afastamento entre os extremos. A forma como os indivíduos se expressam está diretamente ligada às suas identidades políticas e sociais.

Nos extremos, a linguagem frequentemente se torna um instrumento de exclusão, usado para demonizar o outro e criar barreiras intransponíveis. Palavras e frases carregadas de ideologia são usadas para dividir, e não para conectar.

Os moderados, que tentam navegar nesse campo minado, muitas vezes se veem encurralados, incapazes de adotar uma linguagem que não os alinhe automaticamente a um dos lados. Essa armadilha linguística os empurra para fora do debate, contribuindo para sua inação e consequente marginalização.

Além disso, vale lembrar que a linguagem já foi um fator determinante na história em mais de uma ocasião. Por exemplo, quando o clero mantinha os textos sagrados em latim. Ou mesmo atualmente, porque a linguagem jurídica parece incompreensível para as pessoas mais simples.

Falta comunicação

A falta de uma educação social e política robusta cria um terreno fértil para a polarização. A tecnologia, ao amplificar vozes extremas e criar bolhas de informação, solidifica essa divisão. A linguagem, utilizada como ferramenta de exclusão, reforça barreiras ideológicas. E as diferenças geracionais acrescentam uma camada adicional de complexidade a esse quadro, dificultando ainda mais a criação de pontes entre os diferentes grupos.

A polarização política, portanto, não é apenas uma questão de divergências ideológicas. Ela ganha força devido a uma série de fatores interligados que, juntos, criam um ambiente em que o diálogo se torna quase impossível e onde os moderados, em vez de atuarem como agentes de conciliação, são jogados para a passividade.

A tendência é que essa polarização se aprofunde, tornando cada vez mais difícil a construção de uma sociedade onde o debate e a ação política foquem na diversidade de ideias e no respeito mútuo.–

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