No STF, Ronnie Lessa diz que matou Marielle por “ganância”
O ex-PM Ronnie Lessa, acusado de matar a vereadora Marielle Franco, afirmou em audiência no Supremo Tribunal Federal (STF) que matou a política por “ganância”. O ex-PM firmou acordo de delação premiada e diz ter sido contratado pelos irmãos Domingos e Chiquinho Brazão. A informação é da Folha de S.Paulo.
Segundo Lessa, ele aceitou cometer o crime pela promessa de autorização para explorar terrenos na zona oeste no Rio de Janeiro, o que poderia lhe render, segundo ele, R$ 25 milhões.
“Aquilo ali [possibilidade de ficar rico] me deixou impactado, me deixei levar ali. Foi ganância, me deixei levar. Eu nem precisava, realmente. Eu estava numa fase muito tranquila da minha vida. Minha vida já pronta, e eu caí nessa asneira. Foi ganância mesmo. Uma ilusão danada que eu caí”, afirmou.
O acusado diz que pesquisas sobre políticos do PSOL começaram em 2012. Os pedidos chegavam até ele através do PM Edmilson de Oliveira, conhecido como Macalé. A proposta para executar Marielle aconteceu no fim de 2016, quando pesquisaram nomes ligado ao partido. “A Marielle teve a infelicidade de aparecer negativamente para ele. Parecia que eles queriam dar uma pancada no PSOL”, disse.
Ele também citou o nome do delegado Rivaldo Barbosa, ex-chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro, como um dos responsáveis por planejar o crime.
“Talvez, se tivesse uma intervenção, uma coisa séria, se aparecesse um cara para denunciar provando que deu dinheiro a delegados, ia ter que abrir concurso. Seriam meia dúzia de gatos pingados que iriam sobrar. Essa é a realidade da Polícia Civil e na Polícia Militar. As polícias estão contaminadas há décadas”, afirmou.
Lessa depôs sem a presença virtual dos réus. Ele afirmou não se sentir confortável com a presença dos outros acusados. “Nós tínhamos um pacto de silêncio e ele foi quebrado. […] Não estamos lidando com pessoas comuns. São pessoas de alta periculosidade, assim como eu fui. Não me coloco como sendo mais perigoso que eles. No andar do depoimento vamos perceber que essas pessoas são mais perigosas do que se possa imaginar”, explicou
Delação premiada
Ao firmar acordo de delação premiada e acusar os irmãos Brazão de serem mandantes do crime, Lessa afirmou que os dois ofereceram US$ 10 milhões, o equivalente a mais de R$ 50 milhões, pela morte da vereadora. Na proposta, Macalé também receberia o mesmo valor.
“Era muito dinheiro envolvido. Na época, daria mais de 20 milhões de dólares. A gente não está falando de pouco dinheiro […] ninguém recebe uma proposta de receber dez milhões de dólares simplesmente para matar uma pessoa. Então, na verdade, eu não fui contratado para matar Marielle, como um assassino de aluguel. Eu fui chamado para um sociedade”.
Em relatório, a PF afirma que o primeiro encontro entre os acusados para tratar do crime ocorreu em 2017, quando os irmãos Brazão contrataram Macalé. Em seguida, o comparsa convidou Lessa para participar do crime. As armas e os veículos utilizados na ação foram providenciados.
Ronnie Lessa foi preso em março de 2019, um ano depois das mortes de Marielle e do motorista Anderson. A arma do crime nunca foi encontrada. Macalé, por sua vez, foi assassinado em novembro de 2021.
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