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Arte urbana e conscientização socioambiental: Festival Paredes Vivas ilustra o Centro de Goiânia

No alto da lateral do edifício Naim Rassi, localizado na rua 03, esquina com a rua 07, no centro de Goiânia, existe um mural que representa as brigadistas Kalungas do território da Chapada dos Veadeiros, localizada no Nordeste do Estado de Goiás. No painel artístico, uma das figuras femininas está segurando um abafador de chamas, que geralmente é construído com uma lâmina de borracha compacta que apaga os indícios do fogo. 

A segunda imagem representa uma mulher da mesma comunidade, jogando as sementes no chão e plantando as Calliandras: flores popularmente conhecida como Esponjinha-vermelha, Topete-depavão e Mandararé. Trata-se de uma planta arbustiva que pode variar entre 1,8 a 4,7 metros de altura, que possui caule ramificado, folhas compostas, bipinadas e opostas, pequenos folíolos verde escuros.

O mural foi idealizado pela artista visual Hariel Revignet. A obra faz parte do Festival Paredes Vivas, edição Cinzas da Floresta. As Paredes Vivas são uma iniciativa sociocultural que acredita na arte urbana como uma poderosa ferramenta para abrir paredes que dividem pessoas e espaços. O projeto parte do princípio que a arte é uma janela que permite a conexão e a reflexão com um mundo mais colorido, sustentável e justo. Em Goiânia, a produtora cultural Valenta Arte Urbana assumiu a curadoria, com produção executiva de Larissa Pitman.

Além de brigadistas Kalungas, represento também mulheres Karajás. Considero elas como as Guardiãs do Cerrado. A obra denuncia os incêndios criminosos e também exalta o trabalho dessas profissionais que fazem o fogo prescrito, fogo controlado na intenção de preservação do Cerrado e revitalização das semestes

Hariel Revignet, artista visual
Hariel Revignet pintuando o mural Guardiãs do Cerrado | Foto: @valenta_brasil

A edição Cinzas da Floresta tem como objetivo a pintura de empenas em 5 cidades do país. Para a pintura das laterais dos prédios são utilizadas cinzas das queimadas de florestas dos biomas brasileiros, transformadas em tinta. Além das pinturas, serão realizadas atividades de arte e educação, direcionadas a alunos de escolas públicas do entorno das empenas com a articulação de artistas locais para a realização de murais colaborativos.

O mural teve a assistência dos artistas visuais e Vandal Ink e Jaquelinne Felizardo. O processo de pintura exige cuidado e uma produção atenciosa. Os profissionais utilizam de equipamentos de proteção individual diversos e, principalmente, o balancinho elétricos, plataformas que podem ter de um até oito metros de espaço. 

Temos que aproveitar o período da manhã porque é quando dá sombra na parede. A partir da uma hora [13h] é o sol quente e fica mais difícil a pintura por conta da questão do calor e da altura. Conseguimos retornar a pintar após às quatro [16h], quando o sol começa a dar uma abaixada, porque se não dá insolação

Vandal Ink, artista visual
Vandal Ink no processo de subir no balancinho | Foto: @valenta_brasil

Estou na função de fazer os preenchimentos do mural. Seguindo as instruções da Hariel pinto as sombras e acrescento cores em pontos específicos do pintura. Em relação as tintas a gente estabeleceu uma medida certa para se misturar as cinzas com a resina para alcançar uma tonalidade correta. Todos tem autonomia para produzir as tintas

Jaquelinne Felizardo, artista visual
Jaquelinne Felizardo no balancinho em altura certa para ajustes de cor e sombra | Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

Para que o trabalho gigante seja desenvolvido com maestria, é necessário o apoio de produção de alguém que fique no chão, de longe, analisando os tons, as cores e as sombras que faltam. A intitulada produção de base também vigia para que os cabos que seguram as estruturas nas laterais do prédios não se embaracem. O contato constante com os artistas que estão nas alturas é essencial e feito por telefone. No mural produzido no centro de Goiânia, a artista visual Sarah, que tem nome artístico de Acerolah, assumiu essa responsabilidade.

O produtor de base fica na assistência. Precisou fazer uma tinta? Eu faço. Precisou de comprar uma corda, um alicate? Eu compro. Tiro fotos de como o mural está ficando e envio para eles para terem noção. Às vezes de perto não dá para ver com nitidez por conta do claridade intensa. É uma função tranquila e ao mesmo tempo agitada. É ótimo!

Sara (Acerolah), artista visual
Sarah, produção de base no mural Guardiãs do Cerrado | Foto: @valenta_brasil

A iniciativa do Festival Paredes Vivas edição Cinzas das Florestas contou com uma ação educacional na Escola Estadual Professora Olga Mansur, que fica no bairro Vila Monticelli em Goiânia. A atividade foi conduzida pela arte educador e artista visual indígena José Alecrim. Os alunos participaram de uma oficina que trabalhou o tema das queimadas assumindo postura conscientizadora. Houve produção de cartazes e desenhos com as cinzas das florestas. Os alunos também puderam visistar o mural “As Guardiãs do Cerrado”.

A iniciativa também contou a com a produção de um mural em um muro próximo a escola estadual. O artista idealizador do é o artista visual Wes Gama. O mural representa um papagaio voando em fuga das queimadas e um ser que representa a natureza com um olhar quádruplo sobre o contexto sensível que vivemos hoje em relação ao meio ambiente.

Mural de Wes Gama, próximo ao Escola Estadual Professora Olga Mansur | Foto: @valenta_brasil

Esse layout eu pensei sobre as queimadas que acontece na Chapadas dos Veadeiros, lugar onde morei por um tempo. A gente reparva muito a revoada dos pássaros quando o fogo começa. Tem uma pessoa com esse olhar de natureza, observando essa situação, avaliando o que é possível se fazer pelo lado de lá, pelo lado da natureza observando as nossas ações humanas.

Wes Gama, artista visual
Wes Gama, artista visual | Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

O mural acima teve a colaboração dos astistas visuais Muriel e Douglas Poderi, que atuaram como assistentes. O trabalho em equipe em contextos de grandes pinturas é essencial para que o trabalho se desenvolva de maneira eficiente.

Achei bem simbólico essa ideia de ressignificar uma destuição que está acontecendo em vários lugares do país. Acho que agente traz um protesto essencial em cima desse trabalho em defesa dos nossos biomas. O que vai sobrar pras outras gerações?

Muriel, artista visual

Tá sendo muito interessante esse trabalho, fiquei muito feliz com o convite. O material é algo novo pra mim. Acho muito massa a interação que está tendo, a rua tem dessas coisas, né? A possibilidade de testar novos materiais.

Douglas Poderi, artista visual

A produção de base do mural, realizado próximo ao mural da Escola Estadual Professora Olga Mansur, foi responsabilidade do artista visual Diogo Rustoff.

O produtor de base é responsável cuidar dos detalhes e proporcionar que os artistas foquem no trabalho. Estou preparando as tintas porque elas tem que ser preparadas na hora, não é uma tinta que a gente traz pronto da loja. Também sou responsável por limpar o material, levar para o local e distruibuir. Enquanto cuido desses detalhes os artistas executam o mural

Diogo Rustoff
Produtor Diogo Rustoff | Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

A iniciativa Paredes Vivas edição Cinzas da Floresta desempenha um papel essencial na conscientização socioambiental ao usar a arte urbana como um meio de transformação social. Desde 2010, a iniciativa se dedica a criar projetos personalizados que não apenas destacam e valorizam a diversidade cultural dos artistas brasileiros, mas também promovem uma conexão profunda entre pessoas e ambientes.

Ao transformar ideias em expressões artísticas impactantes, a Cinzas da Floresta abre portas para a reflexão e a compreensão, contribuindo para um mundo mais colorido, sustentável e justo. Através dessa abordagem, a iniciativa não só enriquece o espaço urbano, mas também fomenta uma maior consciência coletiva sobre questões socioambientais.

Confira o processo de produção dos murais e as atividades educacionais promovidas pelo festival Paredes Vivas no vídeo abaixo. Confira!

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