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Goiânia em chamas: cidade sofre com alta incidência de incêndios

Goiânia tem enfrentado um cenário alarmante de incêndios em 2024. Segundo dados do Corpo de Bombeiros, foram registradas 3.554 ocorrências de incêndio em todo o Estado de Goiás, das quais 1.622 ocorreram em Goiânia, representando 45,7% do total. A situação crítica na cidade tem sido intensificada por fatores como as altas temperaturas, a baixa umidade e, em muitos casos, ações humanas criminosas.

Em todas as cinco regiões de Goiânia, os moradores têm relatado dificuldades para respirar devido à fumaça densa que cobriu a cidade, especialmente no mês de setembro. Um dos focos mais atingidos foi a Região Norte, onde incêndios, como o que devastou o Parque Lagoa Vargem Bonita, localizado no Setor Sítio de Recreio Mansões do Campus, deixaram um rastro de destruição. Árvores históricas, pássaros, cobras e até um filhote de anta foram vítimas das chamas, em uma área próxima ao Campus II da Universidade Federal de Goiás (UFG). No setor Jaó, que possui muitas áreas verdes, os moradores se queixam da recorrência das queimadas, prejudicando significativamente a qualidade de vida.

Fogo em vegetação próximo ao aeroporto de Goiânia l Foto: Divulgação/Bombeiros

Outro incêndio de grande impacto ocorreu no Parque das Laranjeiras, onde uma parte significativa da vegetação foi destruída. A Delegacia Estadual de Repressão a Crimes Contra o Meio Ambiente (Dema) foi acionada após denúncias, e a polícia identificou o responsável pelo crime, que agora responde por ter causado o incêndio.

No dia 4 de setembro, um incêndio de grandes proporções atingiu uma área de vegetação próxima à Universidade Paulista (Unip) em Goiânia. Motoristas chegaram a se arriscar para salvar seus veículos, enquanto imagens do fogo foram registradas nas proximidades da Paróquia Menino Jesus, perto do autódromo Ayrton Senna.

Além da capital, o Parque Estadual Altamiro de Moura Pacheco, na região metropolitana de Goiânia, também foi severamente afetado. Já foram consumidos 90 hectares de vegetação, o equivalente a 90 campos de futebol. Esse parque, que atua como uma barreira protetora do principal reservatório de água da região, é vital para a regulação climática local. O Parque Botafogo e o Jardim Botânico também foram atingidos pelas chamas.

Fogo criminoso no Parque das Laranjeiras l Foto: Divulgação/Bombeiros

Wanderson Rosa da Silva, voluntário há seis anos no Parque Altamiro, destaca a importância de cuidar dessas áreas. “Infelizmente, a gente só dá valor às coisas depois que se perde”, lamenta. Para ele, os prejuízos causados pelos incêndios são incalculáveis, tanto para a fauna e flora quanto para o abastecimento de água da cidade.

Órgãos ambientais intensificam ações preventivas contra incêndios e poluição em Goiânia

A reportagem conversou com Wanessa Castro, bióloga e chefe de gabinete da Agência Municipal do Meio Ambiente (Amma), que destacou as iniciativas adotadas para minimizar os riscos de incêndios urbanos e evitar problemas decorrentes da estiagem. Entre as ações, está uma operação conduzida pela prefeitura, por meio da Companhia de Urbanização de Goiânia (Comurg), para a remoção de folhas e galhos secos das principais vias da cidade. A medida não só melhora o aspecto visual, mas também previne incêndios e impede o entupimento de bueiros com a chegada das chuvas.

Ipê consumido pelas chamas no Parque Lagoa Vargem Bonita l Foto: Wanderson Rosa

Essa força-tarefa é parte de um esforço contínuo da Prefeitura para assegurar o funcionamento adequado das redes de drenagem pluvial, além de reduzir os riscos de incêndios, que aumentam no período seco. Segundo Wanessa, desde maio, a Amma tem implementado medidas preventivas nos parques municipais, como a construção de aceiros – faixas de terra sem vegetação – que ajudam a conter o avanço das chamas. “Esses aceiros, com cerca de três metros de largura ao redor das áreas de mata, são fundamentais durante a seca, quando a vegetação seca e a baixa umidade aumentam o risco de incêndios”, explica.

Além disso, a Amma está produzindo abafadores de chamas em sua garagem operacional. Nos parques, sopradores e caminhões-pipa são utilizados para combater focos de incêndio. A chefe de gabinete orienta a população a acionar os bombeiros pelo telefone 193 ao avistar qualquer foco de incêndio, por menor que seja.

Outra preocupação é com moradores que ateiam fogo em resíduos ou mato em lotes baldios. Wanessa alerta que, em Goiânia, queimar resíduos sólidos ou vegetação em áreas públicas ou privadas sem licenciamento é uma infração ambiental, conforme o Decreto Federal Nº 6.514/2008. A fiscalização da Amma atua em flagrantes, que podem ser denunciados pelo telefone 161. Já em casos sem flagrante, a população pode acionar a Delegacia Estadual de Meio Ambiente (DEMA). As multas variam de R$144,92 a R$1.449,20, dependendo da gravidade.

Fogo nas proximidades de Goiânia l Foto: Reprodução

Wanessa também comentou sobre o incêndio no Parque Lagoa Vargem Bonita, que possui um nascente importante para o abastecimento do Rio Meia Ponte. “Perdemos muitas árvores em um incêndio de grandes proporções, e esperamos o período chuvoso para retomar o reflorestamento”, disse, destacando que o monitoramento da área continua devido ao risco de novos focos.

DEMA: Falta de prevenção é o maior desafio

O delegado Luziano Carvalho, titular da DEMA, informou que o incêndio no Parque Lagoa Vargem Bonita foi criminoso, mas sem dolo, e que duas pessoas foram indiciadas. Luziano, com vasta experiência em proteção ambiental, lamenta que os órgãos de fiscalização estejam “perdendo a batalha contra os incêndios”. Ele critica a falta de ações preventivas desde o início da estiagem e sugere o uso controlado do fogo para criar aceiros, uma prática que poderia ser adotada em todo o Estado de Goiás, próximo a áreas de conservação, rodovias e cidades.

Luziano também destacou a necessidade de uma nova cultura de disposição adequada do lixo e mencionou a negligência tanto do poder público quanto da população. Ele citou como exemplo o incêndio na Serra das Areias, em Aparecida de Goiânia, provocado por um morador que queimou lixo. “Como punir uma pessoa assim? Falta conscientização e bom senso”, comentou.

Fogo na Serra das Areias l Foto: Reprodução

Além disso, Luziano alertou que muitos incêndios têm origem em lixões, que frequentemente pegam fogo de forma espontânea. Para ele, investir em prevenção seria mais barato e seguro do que combater incêndios, destacando o perigo para as brigadas e a perda da fauna. “Enquanto não entenderem que a prevenção é o melhor caminho, estaremos enxugando gelo”, concluiu.

Semad: atividade de fiscalização garante que leis ambientais serão sempre plenamente respeitadas

A reportagem também procurou a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) para saber sobre as ações implementadas para a preservação ambiental em Goiânia e Região Metropolitana. A secretaria enviou uma nota oficial com detalhes das suas iniciativas. Veja nota na íntegra.

Todas as ações da Semad contribuem, direta ou indiretamente, para a melhoria do meio ambiente em Goiânia e na região metropolitana, que é objetivo desta reportagem. Um exemplo é a gestão do Rio Meia Ponte. A partir de 2019, a Secretaria avançou a passos largos implementação de procedimentos que garantem a gestão eficiente dos recursos hídricos, e como resultado, nunca houve falta de água em Goiânia e na região metropolitana para o abastamento público. Esse trabalho inclui o monitoramento constante da bacia hidrográfica e da vazão do rio, além da revisão de outorgas (licenças) concedidas quando necessário.

Outra ação para a melhoria do meio ambiente na região metropolitana de Goiânia é a gestão dos parques Parque Estadual Altamiro de Moura Pacheco (Peamp) e do Parque Estadual do João Leite (Pejol). Com essa atuação, a Secretaria amplia as áreas verdes da região metropolitana, promove a preservação de áreas permeáveis, garante a recarga do lençol freático e mantém vivos corredores ecológicos onde vivem milhares de espécies da fauna e flora.

Fumaça provocada por fogo no Jardim Botânico l Foto: Reprodução

Em paralelo, é importante lembrar que a Semad tem uma política de resíduos sólidos com desdobramentos diretos sobre a região metropolitana. Pela primeira vez na história, aecretaria assumiu responsabilidades, que antes eram exclusiva sdos municípios goianos, visando o encerramento de lixões e a ampliação da coleta seletiva. Tais ações voltadas para a destinação ambientalmente correta dos resíduos sólidos impacta positivamente não apenas a cidade de Goiânia, mas também os municípios do entorno.

Com o aperfeiçoamento da área de licenciamento, a Semad consolida as condições para que a ocupação e uso do solo sejam sustentáveis. Além de garantir que os empreendimentos sigam normas ambientais, a secretaria hoje garante a tramitação célere dos processos. A agilidade no licenciamento não só assegura o cumprimento das leis, mas também desestimula indivíduos a agirem na clandestinidade.

Com as atividades de fiscalização, a Semad garante que leis ambientais serão sempre plenamente respeitadas, o que garante efetividade às nossas políticas públicas.

Por fim, cabe ressaltar que a Semad também desenvolve campanhas e ações de educação ambiental para sensibilizar a população sobre a importância da preservação dos recursos naturais, o uso consciente da água e a destinação correta de resíduos sólidos.

Marcha por Justiça Climática Mobiliza Ambientalistas em Goiânia

No último sábado, 28 de setembro, a Associação para Recuperação e Conservação do Ambiente (ARCA), em parceria com mais de 30 entidades, organizou a primeira Marcha por Justiça Climática em Goiânia. Durante o evento, foram discutidos quatro temas centrais: desmatamento zero com recuperação ambiental, fortalecimento dos órgãos ambientais, responsabilização criminal por queimadas e promoção de agroflorestas com redução no uso de agrotóxicos.

Marcha por justiça climática l Foto: Cilas Gontijo/Jornal opção

O presidente da ARCA, Gerson Neto, ressaltou a relevância da expressão “Justiça Climática”, que destaca o impacto social da crise ambiental. “O calor afeta a todos, mas de forma desigual”, observa. Gerson também expressou preocupação com o colapso climático e a necessidade de apontar soluções para evitar que a sociedade enfrente um colapso similar. “Esta manifestação é resultado de uma articulação recente entre entidades e ativistas do movimento ambientalista, envolvendo tanto jovens quanto pessoas com uma longa trajetória nesse campo, motivados pela urgência da crise climática.”

Ele recordou que o movimento ambientalista em Goiânia é de longa data. “Fomos aqueles injustamente chamados de ecochatos. A diferença é que o que dizíamos antes agora se concretiza da pior forma possível”, comentou. Gerson lembrou que em 2019 foram realizadas duas manifestações contra as queimadas na Amazônia no Parque Vaca Brava e, em 2022, outra manifestação em decorrência do assassinato de Dom Phillips e Bruno Pereira. Agora, devido ao calor extremo e a uma onda de mobilizações nas cidades brasileiras, impulsionadas pela Coalizão pelo Clima, Goiânia também foi convocada a se manifestar.

Segundo Gerson, os governantes refletem o poder político da sociedade, sendo necessário que a crise climática seja tratada como prioridade. “É fundamental que a sociedade eleja governantes comprometidos com o combate à crise climática. O que podemos fazer é nos unir e caminhar juntos; precisamos nos salvar coletivamente, pois sozinho ninguém pode fazer nada”, afirma.

Ele destacou a importância de abordar a questão da classe social, enfatizando a necessidade de proteger os mais vulneráveis. “Se lidarmos com o colapso climático sem proteção social, podemos testemunhar uma grande mortandade em massa devido às consequências da crise para a saúde pública”, alerta. Gerson Neto enfatizou as consequências da crise, incluindo eventos de hipertermia, agravamento de crises respiratórias e infecções resultantes da falta de água tratada. “Esses cenários estão descritos nos relatórios do IPCC da ONU.”

A coordenadora de Advocacy da ONG A Vida no Cerrado, Natalia Brito, afirmou que as mudanças climáticas já estão impactando Goiânia, especialmente através da alteração no regime de chuvas, que afeta diretamente o Rio Meia Ponte, a principal fonte de abastecimento da cidade. A irregularidade nas chuvas compromete tanto o abastecimento de água quanto os processos ecológicos essenciais. Ela destacou que o aumento das temperaturas intensifica a evapotranspiração, resultando em maior perda de água pelas plantas e pelo solo, o que amplifica os impactos no ciclo hidrológico da região.

Natalia também alertou sobre as graves ondas de calor que afetam Goiânia e o Centro-Oeste, representando um risco significativo à saúde, especialmente para grupos vulneráveis como crianças e idosos. “Essas ondas de calor podem causar desidratação, estresse térmico, insuficiência cardíaca e lesão renal aguda”, afirma. Além disso, a combinação de temperaturas elevadas e longos períodos de seca favorece incêndios florestais, prejudicando a qualidade do ar e a saúde da população.

Pesquisadores monitoram poluição do Rio Meia Ponte l Foto: Reprodução

Ela revelou que, entre 1961 e 2019, as temperaturas mínimas no Cerrado aumentaram entre 2,4ºC e 2,8ºC, enquanto as máximas subiram entre 2,2ºC e 4ºC. Estima-se que até 2050 a área queimada no Cerrado aumente em 22%. “Esses incêndios recorrentes prejudicam a regeneração da biomassa e a recuperação natural das áreas afetadas, contribuindo ainda mais para o desequilíbrio ecológico”, conclui.

Natalia Brito ressalta que essa dinâmica de renovação natural está sendo afetada principalmente por queimadas causadas por humanos, distantes da dinâmica ecossistêmica de queimadas naturais do Cerrado. Ela também observa que o desmatamento reduz significativamente a evapotranspiração em nível local. “O bioma Cerrado depende da evapotranspiração da vegetação nativa para manter a umidade do ar e formar as chuvas da estação seca. Na estação seca, o volume de evapotranspiração é, em média, 60% menor nas áreas com cultivo do que com vegetação nativa. A falta de umidade pode agravar a seca e atrasar o início da estação chuvosa, contribuindo ainda mais para as mudanças climáticas”, explica.

Para Natalia, a natureza oferece serviços ecossistêmicos essenciais, como a purificação do ar e da água, regulação do clima e polinização de culturas. “Ao basearmos nossas soluções na natureza, podemos resolver problemas urgentes como mudanças climáticas, poluição e escassez de água. Essas soluções são eficientes, economicamente viáveis e capazes de gerar benefícios múltiplos, como a conservação da biodiversidade e a melhoria da qualidade de vida”, enfatiza.

Natalia Brito l Foto: Cilas Gontijo/ Jornal opção

Ela destaca a necessidade urgente de repensar o uso do solo na Região Metropolitana de Goiânia. O Censo Demográfico de 2022, realizado pelo IBGE, aponta que a área urbana da Grande Goiânia (dez municípios) foi a que mais cresceu em todo o Brasil entre 2010 e 2022. “O aumento de condomínios horizontais na região gera desmatamento e consequências negativas para a flora e fauna locais. A demanda por áreas de lazer em contato com a natureza levou à expansão dos chamados Condomínios Rurais, que invadem áreas protegidas e a Zona Rural. Isso tem causado impactos ambientais e exposto conflitos e contradições nesse processo.”

Natalia observa que a percepção do Cerrado como um bioma desértico e sem biodiversidade é equivocada e contribui para a degradação acelerada da região. “Longe de ser vazio, o Cerrado é um dos ecossistemas mais ricos em biodiversidade do mundo”, afirma. “Devemos ser defensores informados e capacitados para exigir ações significativas dos gestores públicos e parlamentares. Todos fazemos parte disso e podemos integrar um movimento que ganhe força popular para realizar mudanças significativas.”

Ela recomenda a utilização da plataforma Vote pelo Clima, que conecta eleitores a candidatos comprometidos com a luta contra a crise climática. “Vale a pena verificar se seu candidato menciona adaptação climática, desenvolvimento sustentável e conservação do Cerrado em sua campanha ou plano de governo. Também é fundamental conhecer o histórico e a atuação de quem você vai eleger para representá-lo.”

A arquiteta e urbanista Maria Ester, pesquisadora do Observatório das Metrópoles, destacou que a cultura de planejamento urbano muitas vezes não considera a importância de preservar os espaços naturais. Segundo ela, a mentalidade que considera rios como empecilhos remonta a um modelo europeu que ignora a necessidade de preservação desses ambientes. “Somente a partir da década de 1960 começamos a discutir a importância dos espaços naturais, em resposta ao aumento da poluição nas grandes cidades e seus impactos na saúde”, explica.

Maria Ester l Foto: Arquivo pessoal

Maria Ester enfatiza que ainda há uma falta de consciência entre os gestores sobre a necessidade de tratar os espaços naturais nas cidades com respeito. “Precisamos de um conjunto de medidas que promova drenagem adequada na capital, como aumentar a permeabilidade do solo, preservar áreas verdes e respeitar a topografia da cidade.”

Ela critica a falta de proteção das Áreas de Preservação Permanente (APP) em Goiânia. “Nossas áreas verdes não são protegidas; na verdade, já existem autorizações para sua exploração, especialmente nas margens das vias marginais. As nascentes também são desrespeitadas”, revela.

Maria Ester explica que obras podem impactar negativamente o meio ambiente se não considerarem as características naturais. “Obras muito próximas a nascentes ou que impermeabilizam o solo afetam o lençol freático. Uma obra sem um projeto paisagístico adequado também piora a situação climática”, analisa.

Entretanto, ela acredita que é possível construir uma Goiânia ecologicamente correta. “Sim, basta garantir que todos os espaços públicos tenham índice de permeabilidade acima de 50% e priorizar a presença de árvores em detrimento de postes, além de restaurar e reflorestar as nascentes, como no Bosque dos Buritis”, destaca.

Maria Ester também aborda a importância da arquitetura sustentável. “A arquitetura deve otimizar espaços. Em vez de espalhar a cidade, devemos aproveitar espaços vazios e edifícios desocupados, o que é uma ação sustentável.” Ela defende que é necessário reconsiderar a altura dos edifícios, especialmente os que têm mais de 50 andares, que pioram o microclima. “Devemos estabelecer uma altura mais razoável, similar à das árvores, que podem atingir até 30 metros de altura. Isso ajudaria a equilibrar a relação entre vegetação e concreto”, conclui.

Defensor da Natureza: Sinésio Dioliveira e a Luta Contra a Cegueira Botânica

O jornalista e fotógrafo Sinésio Dioliveira é um apaixonado pela natureza e frequentemente visita parques para contemplar a beleza das árvores e a diversidade de pássaros. Além de ser um excelente fotógrafo, Sinésio se destaca como um ‘birdwatcher’, ou observador de pássaros.

Animais e plantas as vítimas dos incêndios l Foto: Sinésio Dioliveira

Sinésio discorre sobre um tema de grande relevância: a “cegueira botânica”, um conceito criado em 1999 pelos biólogos e educadores americanos Elisabeth Schussler e James Wandersee. Ele explica que essa cegueira se manifesta de diversas formas, subdividindo-se em três níveis: político, digital e botânico. De acordo com os autores, a cegueira botânica apresenta três características principais: a incapacidade de reconhecer a importância das plantas na biosfera e na vida cotidiana; a dificuldade em perceber os aspectos estéticos e biológicos das plantas; e a ideia equivocada de que as plantas são seres inferiores aos animais, não merecendo a mesma atenção.

Sinésio enfatiza que por trás dos incêndios florestais estão fenômenos naturais, como raios e fagulhas geradas pelo ressecamento da vegetação, além da ação humana. “A cegueira botânica contribui para a gravidade desses incêndios, que resultam na destruição de vastas áreas florestais e na morte de animais silvestres”, afirma.

As consequências dos incêndios florestais não se limitam à fauna e à flora; elas também afetam a vida humana. Sinésio destaca que muitos perdem bens materiais e, em casos extremos, suas vidas, seja pela ação direta do fogo ou pela fumaça, que provoca problemas respiratórios e cardíacos, especialmente em crianças e idosos.

Embora reconheça que os incêndios urbanos sejam mais frequentes, Sinésio argumenta que eles causam danos ambientais menores em comparação aos incêndios em grandes áreas florestais. “Um incêndio em um lote ou em uma empresa pode ser controlado rapidamente, já em áreas florestais, a contenção do fogo é um desafio, pois muitas vezes os veículos do Corpo de Bombeiros não conseguem chegar ao local”, explica.

Insensibilidade: restos de construção civil jogados no tronco do coco-da-bahia, na rua 55, Centro l Foto; Reprodução

Ele ressalta que, frequentemente, a contenção de incêndios florestais deve ser feita a pé, e quando a equipe chega, o fogo já se espalhou, causando destruição significativa. “Infelizmente, o combate a incêndios florestais ainda carece de aprimoramento tecnológico. Precisamos adquirir aviões apropriados para esse fim. Investir nessas aeronaves não é um gasto, mas um investimento que resulta em maior eficácia na proteção dos patrimônios naturais, impactando positivamente a qualidade de vida de todos”, defende.

Sinésio lembra que os incêndios não apenas ceifam a vida de plantas e animais, mas também afetam a fertilidade do solo e reduzem as nascentes. Ele observa que a cegueira botânica se manifesta de diversas formas nas cidades. “Ao caminhar pelas calçadas, percebo a ausência de árvores. Algumas pessoas envenenam as árvores, outras as removem durante a noite ou asfixiam seus troncos com cimento, sem perceber que elas são seres vivos que necessitam de água, assim como nós. Quando chove, a água não chega ao solo, pois o cimento a impede”, critica.

Sinésio Dioliveira empoleirado num pequizeiro; sua amizade pela árvore é antiga l Foto: Chris Respland

Citando o poeta Carlos Drummond de Andrade, Sinésio destaca a fragilidade humana em relação à Terra: “O homem é bicho da Terra tão pequeno”. Ele conclama a sociedade a amar as árvores como a si mesmas, lembrando que a morte das árvores é, de certa forma, a nossa própria morte. “Esses seres maravilhosos, criaturas do mesmo SER que nos criou, nos oferecem sombra, frutos e oxigênio, benefícios que não devemos ignorar”, finaliza.

Queimadas Urbanas Aumentam Risco à Saúde

As queimadas em áreas urbanas representam um grave risco tanto para o meio ambiente quanto para a saúde pública, gerando impactos negativos significativos. O fogo em regiões próximas às cidades libera grandes quantidades de gases tóxicos, como monóxido de carbono e dióxido de enxofre, além de partículas finas que comprometem a qualidade do ar.

Esses poluentes elevam os índices de poluição atmosférica e aumentam o risco de doenças respiratórias, como asma e bronquite, especialmente entre populações mais vulneráveis, como crianças e idosos.

Fernanda Miranda de Oliveira – pneumologista l foto; Arquivo pessoal

Em entrevista, a pneumologista Fernanda Miranda de Oliveira, presidente da Sociedade Goiana de Pneumologia, destacou os problemas de saúde decorrentes dos incêndios e os cuidados que a população deve adotar durante períodos de exposição à fumaça das queimadas.

Segundo a especialista, a fumaça dos incêndios florestais é composta por uma mistura de poluentes, sendo o material particulado a principal ameaça à saúde. Os efeitos a curto prazo da exposição variam de irritação nos olhos e nas vias aéreas superiores a inflamação pulmonar, exacerbação de asma e doença pulmonar obstrutiva crônica. Também há um aumento do risco de infecções respiratórias e agravamento de doenças cardiovasculares, como insuficiência cardíaca, arritmias e infarto agudo do miocárdio, resultando em um aumento de internações e de óbitos.

Fernanda destaca que alguns grupos populacionais são mais suscetíveis, incluindo crianças, idosos, gestantes, trabalhadores ao ar livre e pessoas com doenças respiratórias e cardíacas crônicas, que devem ter atenção redobrada. Ela sugere algumas medidas preventivas, como limitar a exposição e permanecer em ambientes fechados. “Em casa, para aqueles que podem, é importante manter portas e janelas fechadas para reduzir a entrada de poluentes”, enfatiza.

Outra ação recomendada pela pneumologista é evitar permanecer por longos períodos ao ar livre. Caso seja necessário sair, o uso de máscaras é essencial. Além disso, ela ressalta a importância de umidificar o ar. Para quem utiliza veículos, a orientação é manter janelas e aberturas de ventilação fechadas, utilizando o ar-condicionado no modo de recirculação.

Fernanda Miranda ainda alerta sobre a necessidade de evitar exercícios físicos moderados a intensos em ambientes externos durante esses períodos. A especialista reitera que grupos como gestantes, crianças, idosos e pessoas com doenças respiratórias e cardíacas crônicas devem ter cuidados redobrados para proteger sua saúde.

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