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Professores da rede municipal e estadual compartilham realidade do cotidiano nas salas de aula

Com colaboração de Junior Kamenach

Após a divulgação dos resultados da prova do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), no qual Goiás e a Capital ficaram em 1° lugar, o Jornal Opção iniciou diálogos com professores e professoras da rede de ensino para compreender a realidade de quem vive o cotidiano nas salas de aula. Enquanto alguns relatam avanços no sistema público de ensino, outros reforçam a precariedade que muitos profissionais e estudantes enfrentam diariamente, além da necessidade urgente de valorizar devidamente a Educação.

A professora Carolainy Reis, da rede estadual de ensino, compartilha um pouco da realidade no interior do estado. “Nossos alunos estão sendo incansavelmente preparados para o Ensino Superior”, afirma ao mencionar o foco dado na preparação para o Enem. Investimento de recursos em material preparatório específico, aulões temáticos e recursos tecnológicos são alguns dos pontos destacados pela professora. 

A docente reforça o bom desempenho dos estudantes, inclusive na prova do Ideb. “Percebo que os recursos pedagógicos têm sido primordiais no avanço da aprendizagem”, reforça a importância dos investimentos do Estado.  

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O Jornal Opção conversou com a professora Adriana Campos, que ensina tanto na rede municipal de Goiânia quanto na estadual, para entender um pouco melhor o cotidiano dos trabalhadores que formam novas gerações de profissionais. Confira abaixo.

Entrevista

Repórter: Quais são os principais desafios que os professores enfrentam no dia a dia na sala de aula? 

Adriana Campos: Olha, há 27 anos que eu dou aula na rede pública municipal e estadual. Nós temos inúmeros desafios. 

O primeiro desafio que nós enfrentamos é a realidade socioeconômica dos alunos. 

O segundo desafio é a questão da faixa etária dos estudantes. Porque hoje, o governo estadual não quer que os alunos fiquem fora da faixa etária própria para o estudo, tanto que eles estão até fechando as escolas do noturno.

Um terceiro desafio, muito grande, são as novas tecnologias que não estão presentes nas salas de aula. A maioria das escolas não têm laboratório de informática. Quando você chega na escola pública, não tem uma internet cabível para que o aluno estude. Como que, hoje em dia, ele [aluno da rede pública] vai competir com um aluno de escola particular, que estuda já com seu notebook? Então são grandes desafios que nós enfrentamos para que esse alunado, ele se prepare, e ele tenha um alcance cognitivo para que ele chegue bem formado no ENEM. 

R.: Como você vê as perspectivas para a educação municipal nos próximos anos? O que mais te preocupa e o que mais te anima? 

A. C.: A municipal cuida, por obrigação, da educação infantil até o ensino fundamental 1, é a preocupação da Prefeitura. Eu vejo que está sendo cuidada em alguns pontos assertivos, e em outros pontos não assertivos. Por exemplo, no município de Aparecida, a infraestrutura é melhor em alguns aspectos, o aparato salarial dos professores e também o aparato para o estudo dos alunos. Os alunos recebem um uniforme, uma merenda melhor e um material melhor para estudar. Já no município de Goiânia, devido à má gestão do Rogério Cruz, os meninos ficaram quatro anos sem receber uma merenda adequada e uniformes também, e de certa forma o rendimento caiu. 

R.: E os resultados do Ideb? Eles refletem o que realmente acontece nas escolas? 

A.C.: Não. De verdade, quando se faz o cálculo do IDEB, é feito uma jogada que quem sabe é só a Prefeitura, o Estado e quem coordena. Na verdade, se você for lá [nas escolas], tem muitos meninos que não sabem ler e escrever, muitos ainda não têm o alcance da escrita. A prova do Ideb mede o conhecimento cognitivo juntamente com o índice de aprovação, e os professores da Prefeitura são proibidos de reprovar alunos, então como não se reprova aluno, na hora que vai somar a prova junto com o índice de aprovação, o Ideb sobe, ai mascara essa nota. Porque? Pegou o ensino médio, fechou as escolas do noturno onde tinha meninos com aprendizado fraco, que são os meninos do EJA, e deixou somente quem é do diurno, do matutino e do vespertino, que são meninos que produzem mais, e proibiu que, em ano de Ideb, reprovasse. Aí, o aluno tira uma nota até razoável, e não tem reprovação nesse ano, aí soma e dá uma nota melhor no Ideb. Uma máscara, porque, na verdade, a educação não está tão boa. 

R.: O que te motiva a continuar na profissão mesmo diante de tantas dificuldades e desafios?

A.C.: Primeiro, eu sou concursada. Eu não posso largar meu concurso, então isso é um dado realista. Agora, do lado profissional, o que me faz ficar é porque eu escolhi ser professora, eu gosto de dar aula. Eu gosto de chegar na sala e ver que, mesmo na inocência do meu aluno, eu posso ensinar e posso fazer com que ele aprenda o mínimo para que ele possa ter uma formação. Por mais que falem que, hoje em dia, ser professor é difícil, é complicado para aquele professor que não é dialógico. O professor que é dialógico, é um professor que tem empatia, ele consegue dar aula, por que o aluno tem sede de um professor que quer dialogar com ele, que quer saber das ansiedades dele [do aluno], dos problemas que ele tem, de vivência lá fora, na família, no contexto social, e ele traz para a sala de aula e você troca esse conhecimento com ele, e aí ele devolve em forma de aprendizagem. Por isso que hoje, quem consegue ficar na sala de aula tem que desenvolver isso, por isso que eu ainda estou na sala de aula, por isso que ainda é bom estar na sala de aula, não por causa das políticas públicas. 

R.: As trocas constantes de secretários municipais, por exemplo, afetam o trabalho dos professores e os resultados das escolas? 

A.C.: Ah, é lógico que sim. Quando há esse troca troca de cadeiras, lá em cima eles ficam desajustados. Por exemplo, na Prefeitura de Goiânia nós temos uma cartilha que eles pedem que a gente siga, o nome é ‘Aprender Sempre’. Essa cartilha é obrigatória para seguir. Eles fazem com que a gente descarte o livro que o MEC todo ano manda para a gente. Engaveta o livro que o Governo Federal manda, que gasta dinheiro público, e obriga a usar essa cartilha, essa cartilha que veio da gráfica parceira do prefeito Rogério Cruz. A gente está usando isso já tem quatro anos.

É chamada ‘Aprender Sempre’ essa cartilha, uma cartilha horrível e defasada. Aí quando há essa troca de cadeiras entre eles lá, sai um secretário e entra outro secretário, eles ficam duelando para ver quem vai apresentar a melhor proposta de trabalho. Ficam fazendo a educação de um cenário de experiências, aí a educação fica sendo um mercantilismo, cheia de projetos. Para você ver, eu dou aula no terceiro ano, eu não uso o livro didático que o MEC doa para a escola com nosso dinheiro público, porque tem esse livro do ‘Aprender Sempre’, que vem da empresa que foi contratada, que é parceira do Rogério Cruz, que é nosso prefeito de Goiânia. Depois tem um projetinho chamado ‘Banco Mais’ que é de uma outra empresa que veio, e depois tem um outro projeto literário chamado ‘Cápsula Literária’, ou seja, a escola da Prefeitura de Goiânia virou um descarte de empresas investindo dinheiro, que a gente nem sabe de onde vem, e isso tudo são os secretários que ficam colocando para cima da escola.    

Secretaria de Estado de Educação 

Em entrevista concedida ao Jornal Opção em agosto deste ano, a secretária Fátima Gavioli comenta os resultados do Ideb, que colocaram Goiás em primeiro lugar no ranking nacional. “Essa conquista não é só minha, mas de todos envolvidos na Secretaria de Educação”, colocou. A gestora conta que existem quarenta regionais espalhadas por Goiás e o empenho de todos os técnicos, que “tiveram de ter o mesmo propósito, falar a mesma língua, com o domínio das políticas que foram implementadas”, foi mostrado pelo Ideb. 

A secretária destaca o impacto do Bolsa Estudo, que reforçou a presença dos alunos nas aulas e suas notas, e também as parcerias feitas com o terceiro setor. “Empresas do terceiro setor fomentaram as áreas de formação e inovação; trouxeram boas ideias. Nossa equipe técnica elabora propostas, o terceiro setor analisa junto e todos as implementamos”, explicou. 

Instituto Unibanco, Instituto Natura, Instituto Sonho Grande e outros institutos que não são tão grandes, como o Instituto BEI, são destacados pela chefe da pasta. “Quero deixar claro que não existe investimento do Estado nesses institutos, pelo contrário, são eles que fazem investimentos no Estado de Goiás porque encontram aqui uma porta aberta para fazer seu trabalho”, destacou.

Gavioli seguiu falando das discrepâncias existentes entre as diferentes áreas do estado e da região metropolitana da capital, abordou questões ligadas às negociações salariais, Novo Ensino Médio, Ensino de Jovens Adultos, entre outros pontos. Clique aqui e leia a matéria completa. 

Sobre as críticas específicas feitas por Adriana e outros professores, a Secretaria Estadual de Educação disse que “todas as ações desenvolvidas pela SEDUC, pelos gestores e, principalmente, pelos professores, são no sentido de melhorar estes resultados”. Na sequência, reconhecendo as desigualdades regionais na rede de ensino de Goiás, a pasta afirma que “propõe ações de incentivo financeiro e pedagógico, tentando reduzir desigualdades, buscando assim uma rede com mais equidade na aprendizagem”. 

Secretaria Municipal de Educação 

A Secretaria Municipal de Educação (SME) realizou uma reforma pedagógica na atual gestão, priorizando os estudantes e os colocando no centro das ações pedagógicas, estimulando seu protagonismo no desenvolvimento do processo de aprendizagem.

Assim, a Pasta implementou uma reforma pedagógica a partir do retorno ao atendimento presencial pós-pandemia, com o objetivo de garantir a efetividade das aprendizagens por meio do desenvolvimento de uma nova proposta pedagógica, pautada no Documento Curricular para Goiás – Ampliado, com o objetivo de garantir a todas as crianças e estudantes o direito à aprendizagem com qualidade. 

A SME destaca ainda que as iniciativas e ações pedagógicas estruturantes oportunizaram a melhoria dos processos de ensino e aprendizagem que culminaram com a elevação do Ideb, colocando Goiânia em 1º lugar, entre as capitais, do Brasil.

Secretaria Municipal de Educação

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