O adeus ao pianista Arthur Moreira Lima
Arthur Moreira Lima, um dos maiores pianistas brasileiros, saiu de cena nesta quarta-feira, aos 84 anos de idade. Nascido no Rio de Janeiro em 1940, iniciou sua jornada musical aos seis anos sob a orientação de Lúcia Branco, a mesma professora que formou ícones como Nelson Freire e Tom Jobim. Desde cedo, o talento extraordinário de Arthur o destacou, culminando em conquistas históricas: o segundo lugar no Concurso Internacional de Piano Frédéric Chopin, em 1965, em Varsóvia, e o terceiro lugar no Concurso Tchaikovsky, em Moscou, em 1970. Essas conquistas abriram-lhe portas pelo mundo, onde interpretou compositores como Chopin e Liszt com a profundidade e a paixão de um mestre.
Arthur, no entanto, não se contentou em apenas brilhar no repertório clássico europeu. Ao longo de sua carreira, foi um defensor incansável da música brasileira, incluindo em seu repertório compositores como Ernesto Nazareth, Villa-Lobos e Radamés Gnattali. Em suas apresentações pelo mundo, se destacava ao executar obras como o tango “Odeon” e a valsa “Coração que Sente”, levando a riqueza da nossa música para plateias internacionais. Seu piano revelava o coração do Brasil, que pulsava em cada interpretação, engrandecendo a música popular ao lado das grandes obras da música de concerto.
O álbum de 1975 de Arthur Moreira Lima, dedicado a Ernesto Nazareth, é amplamente reconhecido como um marco no resgate da obra do compositor, então pouco lembrado. Durante os anos 1970, Moreira Lima dividiu-se entre Rússia, França e Brasil, apresentando-se com prestigiadas orquestras europeias e participando de gravações de música brasileira, como no álbum “ConSertão” do grupo Época de Ouro, em 1982. Nos anos 1980, iniciou esforços de popularização da música de concerto, destacando-se o programa “Toque de Classe” na TV Manchete. Já na década de 1990, realizou concertos em comunidades cariocas.
Nos anos 2000, Arthur deu início ao projeto “Um Piano pela Estrada”, com a missão de democratizar a música de concerto em pequenas cidades e comunidades do Brasil. Em um caminhão-palco, percorreu o país, tocando em praças e ruas, criando momentos memoráveis ao unir o erudito e o popular. Em suas performances ao ar livre, com uma mescla única de Chopin e Pixinguinha, ele aproximava o público brasileiro da música de concerto e, ao mesmo tempo, exaltava o valor da música nacional.
Moreira Lima gravou mais de 60 discos e se apresentou com as principais orquestras do mundo, incluindo a Filarmônica de Leningrado, Moscou, Varsóvia, Berlim, Viena e Praga, além da BBC de Londres e a National de Paris.
Morador de Florianópolis desde 1993, recebeu em 2003 o título de Cidadão Honorário da cidade, refletindo o carinho e o respeito que nutriu por sua terra adotiva. Sua última aparição pública foi em setembro deste ano, em uma cerimônia virtual na UFRJ, onde foi homenageado com o título de doutor honoris causa, reconhecimento por sua trajetória artística e por seu papel essencial na popularização da música.
Em sua carreira internacional, Arthur conquistou a crítica especializada por onde passou.
A revista suíça La Suisse o batizou de maneira alegórica:
“Pelé do piano”
A crítica norte-americana reputou sua gravação dos Noturnos de Chopin como:
“o registro pianístico mais importante do ano”.
O crítico londrino Dominic Gill, do Financial Times, declarou:
“Moreira Lima sabe tudo sobre o piano romântico, fazendo seu instrumento falar.”
O falecimento de Arthur Moreira Lima nos recorda o poder da arte em aproximar e inspirar. Assim como Chopin era a voz da Polônia, Arthur soube fazer seu piano falar o Brasil, ecoando sua alma em cada nota. Ele permanecerá vivo na memória daqueles que, em cada um de seus acordes, puderam sentir o pulsar da cultura do nosso país.
Ouviremos Odeon de Ernesto de Nazareth, em gravaçãode 1975, do pianista Arthur Moreira Lima.
Observe nesta interpretação de Odeon à brasilidade rara de Ernesto Nazareth, e o pianismo particular de Arthur Moreira Lima.
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