Uruguaios não querem saber da extrema direita
Repetem que Yamandú Orsi, eleito presidente do Uruguai no domingo, não pode ser comparado a Tabaré Vázquez, o primeiro governante da Frente Ampla, eleito em 2004, e tampouco a Pepe Mujica.
Primeiro, porque não tem a dimensão política de nenhum deles, e segundo porque irá fazer um governo de centro-esquerda, andando mais para o centro e a direita do que para a esquerda.
Orsi é da ala moderada da Frente Ampla e deve governar mais ou menos como Lula no Brasil. Vai evitar conflitos com a direita dos blancos e dos colorados, porque nem maioria terá na Câmara. A vice, Carolina Cosse, prefeita de Montevidéu, é da esquerda da Frente. Terá poder para equilibrar forças no governo?
Mas outra questão que se apresenta tem o valor de uma curiosidade sem resposta categórica: por que o Uruguai não teve, como aconteceu no Brasil (com Bolsonaro), na Argentina (Javier Milei), no Chile (Jose Antonio Kast), no Equador (Daniel Noboa) e na Venezuela (Juan Guaidó, Maria Corina e Edmundo González), a ascensão de um nome competitivo de extrema direita?
Os dois nomes de extremistas uruguaios tiveram no primeiro turno, somados, 5,2% dos votos. Guido Manini Ríos, do Cabildo Abierto, ficou com 2,5%, e Gustavo Salle (foto), do partido Identidade Soberana, com 2,7%.
Manini Ríos é general e senador, da velha extrema direita. Foi chefe do Exército de Tabaré Vázquez e demitido do cargo, em 2019, por críticas às decisões do Ministério Público no sentido de identificar criminosos da ditadura.
Nunca conseguiu se apresentar como alternativa de poder, já tendo disputado duas eleições. O partido dele elegeu três senadores e 11 deputados em 2019. Agora, ficou com apenas dois deputados e nenhum senador. O partido de Salle elegeu apenas dois deputados.
Salle, 66 anos, a mesma idade de Manini Ríos, é uma mistura de Bolsonaro, Milei, Trump e outros do segundo time do fascismo. É um advogado e deputado antissistema, negacionista, antivacina, mas também antissionista, o que surpreende nessa faixa da direita.
Por que Manini Ríos, um líder clássico da velha extrema direita militarizada, e Salle, que fundou o seu partido há apenas dois anos, não prosperaram, como aconteceu com outros nomes em outros países da região?
Outra o pergunta: por que os uruguaios também rejeitaram, como opção para a presidência, na eleição de 2019, o milionário Juan Sartori, que é a mesma mistura de todos os fascistas conhecidos e que chegou a ser anunciado como o Jair Bolsonaro do Uruguai?
Sartori não se reelegeu senador pelo Partido Nacional (dos blancos), de direita, do atual presidente Laccalle Pou. Era considerado, por ser jovem, com 43 anos, um nome para novas tentativas à presidência. Virou um traste nessa eleição.
Mas os uruguaios rejeitarão extremistas até quando? Na Argentina, diziam que lá eles seriam rejeitados para sempre, até que surgiu Javier Milei.
*Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre. É autor do livro de crônicas Todos querem ser Mujica (Editora Diadorim).
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