Justiça em Londres adia a decisão do último recurso de Assange, que tenta evitar a extradição aos EUA
Dois magistrados vão decidir se o Reino Unido entrega o jornalista e fundador do WikiLeaks aos Estados Unidos. Ele está preso por denunciar crimes de autoridades norte-americanas
Brasil de Fato | São Paulo (SP) - Após o segundo dia de julgamento nesta quarta-feira (21) em Londres, o jornalista australiano Julian Assange terá que aguardar por "semanas ou meses" a sentença em relação ao seu pedido para não ser extraditado aos Estados Unidos, onde é acusado de espionagem. Dois magistrados, Victoria Sharp e Jeremy Johnson, vão decidir, em data ainda indeterminada, se o Reino Unido entrega o fundador do WikiLeaks aos EUA.
A esposa do fundador do Wikileaks, Stella Assange, se pronunciou por meio de um vídeo e criticou a manutenção da prisão do jornalista, "indefinidamente, nas piores condições possíveis no Reino Unido". O fundador do Wikileaks está desde 2019 na prisão de alta segurança de Belmarsh, a leste de Londres.
"O trabalho de Julian e sua motivação tem sido fortalecer a democracia e os cidadãos para terem acesso às informações que importam para a democracia e fazer os abusadores prestarem contas. São esses abusadores que agora abusam do sistema legal para manter Julian na prisão indefinidamente, nas piores condições possíveis no Reino Unido", afirmou.
Stella Assange faz um apelo ao primeiro-ministro da Austrália, Anthony Albanese, que ela considera o único político que pode resolver a situação do jornalista. "Porque a Austrália é o aliado mais importante dos Estados Unidos, mais importante que Israel no Oriente Médio, mais importante que o Reino Unido. Autrália tem o poder de trazer Julian para casa. Anthony Albanese, mais do que ninguém, tem o destino de Julian em suas mãos."
Na última semana, Stella Assange já havia alertado para o risco de vida implicado na extradição de Assange, devido a seu frágil estado de saúde. "Sua saúde está piorando, fisicamente e mentalmente. Sua vida está em perigo a cada dia que ele permanece na prisão e se for extraditado, ele morrerá", disse em uma coletiva de imprensa na capital britânica.
Julgamento
O jornalista não compareceu ao julgamento nesses dois dias devido à sua saúde debilitada. Nesta quarta-feira, os advogados dos Estados Unidos alegaram diante da Justiça britânica que o pedido de extradição do jornalista não tem motivações políticas.
"As acusações são baseadas no Estado de Direito e nas provas" contra Assange, disse Clair Dobbin, uma das advogadas do governo dos Estados Unidos, perante o Tribunal Superior de Justiça de Londres. "Ele publicou de forma indiscriminada e consciente ao mundo os nomes de pessoas que atuaram como fontes de informação para os Estados Unidos", disse Dobbi.
Na terça-feira (20), o advogado de Julian Assange, Edward Fitzgerald, apontou "motivações políticas" no pedido de extradição. "Meu cliente está sendo processado por realizar uma prática jornalística comum, de obter e publicar informações confidenciais, informações verdadeiras e de interesse público evidente e importante."
A extradição de Assange é solicitada pela justiça dos Estados Unidos por ele ter publicado, desde 2010, mais de 700 mil documentos confidenciais sobre as atividades militares e diplomáticas de Washington, em particular no Iraque e Afeganistão. Se a extradição for aprovada, o australiano pode ser condenado a uma pena de até 175 anos de prisão nos Estados Unidos.
O fundador do WikiLeaks foi detido pela polícia britânica em 2019, depois de passar sete anos confinado na embaixada do Equador em Londres, onde buscou refúgio para evitar a extradição por acusações de agressão sexual na Suécia, que mais tarde foram retiradas.
A ONG Repórteres Sem Fronteiras visitou o jornalista em janeiro, na prisão de segurança máxima de Belmarsh, a leste de Londres, onde está detido há quase cinco anos, e afirmou nesta terça que Assange está doente e quebrou uma costela devido a uma tosse excessiva.
"Isto reforça os riscos para sua saúde física e mental que existem nas atuais condições de detenção, que se agravariam se ele fosse extraditado", afirmou a ONG.