G20 tem consenso sobre solução de dois Estados para israelenses e palestinos, diz chefe da diplomacia da União Europeia
"É um consenso entre todos nós, porque eu não ouvi ninguém dizer nada contra a solução de dois Estados. Então vamos tornar público", disse Josep Borrell
Reuters - O chefe de diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, disse nesta quinta-feira que há um consenso dentro do G20 no apoio à solução de dois Estados para a crise entre israelenses e palestinos, e que o bloco precisa deixar clara essa posição publicamente.
"É um consenso entre todos nós, porque eu não ouvi ninguém dizer nada contra a solução de dois Estados. Então vamos tornar público. Eu pedi ao ministro brasileiro (Mauro Vieira) que em suas conclusões orais leve esse tema e explique que todos no G20 são favoráveis a essa solução", afirmou Borrell em entrevista a agências de notícias às margens de reunião de chanceleres do G20 no Rio de Janeiro.
O tema foi um dos assuntos centrais no primeiro dia de discussões no encontro de chanceleres do G20, na quarta-feira, que tratou especificamente das tensões mundiais e colocou na mesa a situação em Gaza e também o conflito na Ucrânia.
Enquanto o chanceler russo, Sergei Lavrov, foi o alvo preferencial de ataques de diplomatas ocidentais, a situação em Gaza teve um consenso em torno da necessidade de um cessar-fogo e de uma solução permanente para a região.
"Mas se todo mundo está a favor da solução de dois Estados, então temos que mobilizar nossa capacidade política para pressionar para que seja implementada. De outra maneira são apenas vontades abstratas", afirmou Borrell.
O diplomata europeu informou que os países árabes devem apresentar uma nova proposta na próxima semana para encerrar a guerra em Gaza, que tem como base o plano desenhado 20 anos atrás pelos Estados Unidos e outros países, mas aguardam para ver o grau de apoio que devem receber. Lembrou, ainda, que há um mês a União Europeia também apresentou uma proposta.
Mas, ressaltou, para funcionar os países têm que se envolver e apoiar, especialmente os Estados Unidos.
"Eu espero que nos próximos dias a gente possa ver uma proposta vindo dos países árabes. Eu sei que eles estão trabalhando muito nisso. Mas certamente eles querem ter certeza que, se eles apresentarem, vão ter apoio, ou parecerão impotentes", disse o diplomata.
Até o momento, Israel tem sido resistente a qualquer tipo de proposta de dois Estados, apesar de no passado já ter negociado. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, afirma que qualquer solução tem que ser via negociação entre os dois lados, e não imposta por "potências" estrangeiras, no que foi apoiado pelo Parlamento israelense.
Borrell ressaltou justamente que Israel não tem negociado com os palestinos.
"Eles (os países que negociam) tem que reconhecer que Israel diz que não quer (a solução de dois Estados). Agora eles até têm dito algo diferente, que qualquer solução possível tem que vir da negociação entre os dois lados, o que é diferente de nunca", afirmou. "Nós não temos visto Israel negociando. Mas como eu disse, eles não podem ter o direito de vetar isso."
RÚSSIA
O pedido do fim da guerra da Ucrânia foi outro tema que, segundo Borrell, teve apoio majoritário na reunião dos chanceleres na quarta-feira, mas sem avanços, enquanto o chanceler russo não dava quaisquer sinais de que seu país pode estar aberto a negociar um tratado de paz.
"Eu tenho que dizer que (Vladimir) Putin quer continuar essa guerra. Não há sinais do lado deles de que possam parar, mesmo com fortes críticas de vários membros. Alguns foram mais neutros em condenar, mas pediram uma paz rápida", contou.
O diplomata europeu lembrou que é preciso voltar a se fazer uma proposta de paz, o que foi praticamente abandonado nos últimos meses.
"Alguns meses atrás todo mundo tinha um plano. Agora não há nenhum, ninguém está falando de nenhum plano, bom ou ruim", criticou.