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Vala Comum, de Rickley Marques, reflete sobre o Brasil ao abordar campanha pra prefeito de Goiânia

Mariza Santana

Especial para o Jornal Opção

Estamos em período pré-eleitoral, a campanha para a escolha do próximo prefeito e vereadores está esquentando. Por esse motivo, ler no atual momento o romance “Vala Comum”, do escritor goianiense Rickley Marques, tem um sabor especial.

A narrativa é ambientada em Goiânia durante os três meses anteriores ao pleito municipal. E tem como protagonista o personagem João, ou melhor Johnny, pois ele havia acabado de chegar dos Estados Unidos, país onde passou uma longa temporada trabalhando em restaurantes, depois de não concordar com a maneira como o melhor amigo e companheiro de movimento estudantil, Renato, dava rumo a sua carreira política.

Rickley Marques: escritor, professor universitário e pós-doutor em História | Foto: Facebook

O anti-herói do romance de Rickley Marques é uma pessoa que amealhou uma quantidade de dólares capaz de garantir uma vida tranquila no Brasil, para onde retorna por causa da filha adolescente, já que era divorciado de uma antiga colega do curso de História da Universidade Federal de Goiás (UFG). E o bacana desse romance, principalmente para quem mora na capital goiana, é o fato de serem citados locais conhecidos da cidade e o jeito de ser e pensar do goiano. Embora os personagens sejam fictícios, do antigo companheiro de movimento estudantil, Renato, que agora é deputado federal por um partido de esquerda e pretende ser eleito o próximo prefeito da capital, passando pelo atual mandatário municipal, assessores de campanha, partidários e adversários políticos.

No seu retorno às terras goianas, Johnny se envolve amorosamente com três mulheres (uma antiga amiga, a ex-esposa e uma jovem vizinha, esta última apelidada por ele de “demônio”). Ao mesmo tempo, convidado por Renato, entra de corpo e alma na campanha política do amigo, buscando esquecer as desavenças políticas do passado. Em um trecho do romance o leitor acompanha as mobilizações políticas nas universidades, o trabalho da militância, a busca por alianças partidárias, tudo com o objetivo de derrotar o candidato da direita, um ex-delegado de polícia que lidera as pesquisas de intenção de voto.

Como a campanha política se desenrola no Brasil, lógico que tem sua parte mais obscura, ou seja, o financiamento do candidato. Não é aconselhável adiantar muita coisa, para que a leitura não perca parte do seu frescor e o fator surpresa. Vou adiantar apenas que há um crime um pouco antes da eleição, que muda todo o quadro e interfere diretamente na vida do protagonista e dos demais personagens, dando novos rumos à história.

Crise da meia idade de um personagem frágil

“Vala Comum” é daqueles romances que envolvem o leitor do início ao fim. O personagem principal é cativante na sua fragilidade, pois não é uma pessoa bem-sucedida, mas um homem em plena crise da meia idade, em busca de um norte para o restante de sua vida. Mas que se vê envolvido no olho do furacão da política goianiense assim que retorna à cidade depois de um longo período de ausência na terra do Tio Sam. Johnny é o retrato de tantas outras pessoas que deixaram o país, desiludidos com os rumos da política e da economia brasileira, que quando retornaram ficaram perdidos, pois estavam desenraizados e sem ideia clara sobre que rumo tomar.

A obra de Rickley Marques é um convite à reflexão sobre o Brasil e seu povo: “O brasileiro vivia assim, ora era o país do futuro, ora era o país sem esperança nenhuma. Ora era o país do futebol, ora era o país do 7 a 1 do Mineirão. Por vezes nos víamos como um povo feliz e amigável e depois nos deparávamos com números de homicídios que superavam países em guerra”, analisa Johnny.

Rickley Marques nasceu em Goiânia e é graduado em História pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Tem mestrado e doutorado em História pela Universidade de Brasília (UnB) e pós-doutorado pela Wayne State University, de Detroit, em Michigan, nos Estados Unidos. Atualmente, é professor-associado do Departamento de História da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). “Vala Comum” é seu primeiro romance.

Mariza Santana é jornalista e crítica literária. Email: marizassantana@gmail.com

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