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Conheça Adalto Bento Leal, artista goiano que canta sobre sustentabilidade há mais de 50 anos

Adalto Bento Leal, um músico goiano nascido em Ceres, cresceu no interior, onde o rádio era a principal fonte de entretenimento. Sem televisão, ele se lembra de como as músicas caipiras dominavam a época, com duplas como Tunico e Tinoco, Pedro Bento e Zé da Estrada. “Edgar de Sousa apresentava na rádio um programa que recebia a maioria desses artistas, acho que era na Rádio Tupi”, recorda.

Nos anos 60, Adalto foi atraído pela Jovem Guarda, influenciada pelo sucesso dos Beatles na Inglaterra. “Eu me interessei por aquilo porque era diferente do caipira que vinha ouvindo. Tinha o cabelo diferente, as roupas mais modernas”, conta ele.

Inclusive, ele se lembra da primeira vez que viu o nome dos Beatles escrito num vinil, imaginando como seria em inglês, já que nunca tinha visto um disco antes. “Porque a pronuncia era ‘Bitous’ e não ‘B-ATLÊS’, eu imaginava que era escrito B-I-T-O-U-S”.

No final dos anos 60, os festivais exibiam nomes como Caetano Veloso e Gilberto Gil, e foi nesse período que Adalto começou a se interessar também por músicas internacionais, como as da banda Led Zeppelin.

Adalto tem um vasto acervo de quase 2 mil LPs e sempre sonhou em gravar em vinil. Desde 1981, ele grava suas músicas de forma independente, uma de cada vez, e depois as leva para uma gravadora em São Paulo. Recentemente, assinou um contrato com a Kuarup, que está lançando seu trabalho em plataformas digitais.

Músicas

Adalto Bento Leal | Foto: Guilherme Alves, Jornal Opção

“Primeiro eu gravei um compacto com a Vanda, do Forróbodó, em 1981; a música foi regravada por Martinho da Vila em Amsterdã. Depois que ela faleceu em 1998, eu fui gravar meus discos e cds. Então foi o compacto com mais sete cds, e esses dois discos de vinil”, relata o músico.

Entre os álbuns lançados, por Adalto, destacam-se as cinco vogais: Acústico, Encanto, Incutido com Estrelas, Outros Sonhos, Outros Sons e Um Canto de Paz. Esses são seus primeiros discos.

Depois, no fim da década de 80, Adalto e Wanda formaram um trio musical com Mauricinho Hippie, e assim, a dupla se tornou o grupo Santofício. Em 1978, eles foram os primeiros a se apresentar no palco reformado do Teatro Goiânia.

Depois disso, Mauricinho Hippie se juntou a dupla Wanda e Adalto, e eles formaram um trio musical. Ele foi um dos primeiros homossexuais assumidos de Goiânia, ele andava com roupas mais andrógenas.

”Eu tocava o violão e cantava, a Wanda cantava e fazia a percussão e o Maurício Vicente tocava a sanfona”. Estava formado o grupo Santofício.

Ele relembra músicas premiadas como “Manakereki”, que venceu festivais em várias partes do Brasil, e “Tainárakan”, que aborda a natureza e as minorias. Depois disso, ainda vieram mais cinco álbuns. Sendo os dois últimos de vinil.

Trajetória

A infância de Adalto foi marcada por uma forte socialização em torno da música. Ele se recorda das letras caipiras e da interação entre vizinhos. Embora quisesse ser inventor quando criança, ele descobriu na música uma forma de criar. E assim, em 1968, comprou seu primeiro violão.

Dois anos depois, mudou-se para Goiânia e começou a estudar no Colégio Pedro Gomes. Em 1971, ao assistir ao festival ComunicaSom, decidiu que também podia ser músico. A partir de então, participou do festival até 1975, apresentando músicas que abordavam o meio ambiente e a vida rural.

Sobre o legado que deixa para seus filhos, ele compartilha que escreveu a música “Herança”. “Essa música me deixa emotivo, porque você está vendo tudo o que está acontecendo? A quantidade de queimadas no Brasil, para que põe fogo na natureza?”, desabafa com olhos molhados.

Criança, eu te deixo um planeta cheio de borboletas, para você se encantar. Tem o Sol para você se lembrar de brilhar, tem a lua para você se deitar e sonhar. Tem estrela para enfeitar o seu céu e o mar, tem as nuvens para chover e brotar uma flor no jardim. Criança, eu te deixo um planalto e um Belo Horizonte para você se inspirar. Tem areia, pedras, rios, passarinho no ninho para cantar para você. Borboletas são flores que voam rasantes. E a noite piscando, vem um disco voador lá no céu. Criança, eu te deixo uma vida para você se lembrar de sonhar.

Com exceção do disco mais recente, todas as outras obras de Adalto estão disponíveis para reprodução em seu site: www.adaltobentoleal.mus.br.

Viagens e Ideias

Em 2023, Adalto visitou o Vaticano e deixou alguns de seus CDs na Rádio Vaticana. O padre Raimundo, responsável pela tradução da bênção papal para o português, ficou impressionado com as letras de Adalto, especialmente pela preocupação com o meio ambiente.

“Essa preocupação com o planeta, com a casa comum, com o meio ambiente e a natureza, é a mesma que o Papa está tendo com a humanidade”, afirmou o padre.

Dois anos atrás, em Machu Pichu, ele aproveitou para gravar o clipe da música “Eis a questão”, que está disponível no YouTube. Além disso, em 2024, esteve em Lisboa, onde deixou alguns LPs para serem vendidos em discotecas na cidade do Porto, em Portugal.

“Meu objetivo é registrar momentos, porque eu acho que a nossa vida é um período dividido em fases. E essas fases são divididas em momentos, têm momento para tudo. As reflexões que eu faço são sobre momentos que estou vivendo. Se eu estou na natureza, vou falar sobre a natureza. Eu tento traduzir os momentos em poesia, porque nem todo mundo tem a habilidade de ver e captar. Porque eu acredito que tudo pode ser poesia e música”, reflete o artista.

Os três amores de Adalto: Wanda, Suely e Música

Em 1976, Adalto conheceu Wanda, com quem formou a dupla Wanda e Adalto. Juntos por 22 anos, eles criavam uma música por dia. “A gente fazia uma música por dia, ficamos 17 anos juntos, como casal”, lembra Adalto. Ele conta que, mesmo após a separação, continuaram a cantar juntos, mantendo a parceria musical até 1998, quando Wanda faleceu.

Ele conta que uma das músicas do novo disco foi um presente que Wanda trouxe para ele em sonho. “No sonho eu andava com ela em uma estrada de chão, quando ela derrubava um papel, quando eu li, a letra dizia: menino caneteiro, escreva ai, no seu letreiro, a saudade quando bate no peito é como as cores de uma bandeira”. Na música ‘Confortavelmente Encantado’, com pequenas alterações o artista musicou: “grafiteiro, escreva no muro, no corpo ou no letreiro…”.

Adalto reflete sobre como suas músicas surgem naturalmente, como se viessem de um “universo paralelo”. Ele destaca a música “Herança”, que fala sobre o que deixamos para as futuras gerações. Adalto também menciona sua participação em momentos históricos, como o comício Monstros pelas Diretas Já em 1984 ou 1985, onde tocou suas músicas.

Adalto continua sua trajetória, agora casado com Suely Marques, com quem está desde 1993. Com ela, para além dos dois filhos que tinha, recebeu de braços abertos a enteada. Suely também participa de seu novo disco, cantando em duas faixas:“agroecologia para todos” e “ele e ela”.

Embora valorize o digital, Adalto acredita que a música física, como CDs e LPs, oferece uma conexão mais profunda e duradoura. Adalto tem dois filhos, uma filha enteada, e três netos (dois meninos e uma menina). Seus novos amores, que surgiram com Suely e Wanda, são seus filhos e netos.

Confira a entrevista em vídeo:

Adalto Bento Leal, musicista e compositor goiano há mais de 50 anos | Confira a playlist de entrevistas do Opção Play no YouTube

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