Maior protetor de baleias do mundo poderá ficar preso pelo resto da vida por tentar salvar os animais
Jorge de Souza, Nossa
O pedido de extradição para o Japão, onde é acusado de atacar um barco baleeiro 14 anos atrás, do ativista ambiental canadense Paul Watson, considerado o maior protetor de baleias no mundo – e o principal opositor da caça deste animal, ainda praticada por três países, entre eles o próprio Japão -, será julgado nesta quarta (4), em um tribunal da Groenlândia, território autônomo que pertence a Dinamarca, onde ele está preso há mais de um mês.
Se a extradição for autorizada, Watson, de 76 anos, será enviado ao Japão, onde pode ser condenado a mais de 15 anos de prisão, o que dado a sua idade avançada corresponderia a uma pena praticamente perpétua. E isso apenas por tentar proteger as baleias que o Japão quer continuar caçando.
Como e por que ele foi preso?
A prisão de Watson ocorreu no mês passado, assim que o seu barco entrou no porto de Nuuk, na Groenlândia, para reabastecer, a caminho do Pacífico Norte, onde monitoraria a captura de baleias pelo mais novo e poderoso navio japonês do gênero, o Kangei Maru, lançado dois meses atrás.
Na ocasião, a Polícia dinamarquesa entrou a bordo e prendeu o ativista, com base em um pedido de prisão expedido pela Interpol em 2012, a pedido do Japão, mas que havia sido retirado da lista de procurados no final do ano passado.
A retirada do seu nome da lista levou Paul Watson a imaginar que sua prisão havia sido revogada.
Mas o que ele não sabia era que o Japão havia feito um novo pedido de prisão diretamente à Dinamarca, por saber que ele teria que parar na Groenlândia, para reabastecer o barco.
“Foi uma emboscada”
“Foi uma emboscada”, diz Nathalie Gil, presidente da Sea Shepherd Brasil, entidade que Paul Watson fundou no Brasil, anos atrás.
“A Interpol não poderia ter excluído o nome dele da lista de procurados se o mandado se prisão ainda estava ativo. Além do que, incluir Paul Watson em uma lista de criminosos é uma inversão de valores, porque o Japão segue desacatando um tratado internacional e caçando baleias, juntamente com a Islândia e a Noruega. O que deveria ser considerado ´crime` aos olhos da lei: proteger as baleias ou matá-las?”, questiona a brasileira.
“O único crime aqui cometido é o do Japão, que continua matando baleias”, disse Watson ao ser levado, algemado, para a prisão em Nuuk.
Desde então, ele vem sendo mantido em uma penitenciária da cidade, enquanto aguarda a decisão da justiça dinamarquesa se aceita ou não o pedido de extradição do Japão, o que será feito após o julgamento de hoje. Mas a decisão só sairá nesta quinta (5).
A esperança dos advogados
A esperança dos advogados do ativista é que Watson, dono de uma retórica contundente, possa se manifestar no julgamento (nas audiências anteriores, ele não teve sequer direito a um tradutor), e que o juiz permita que sejam exibidos vídeos da época do protesto contra o barco japonês que culminou no mandado de prisão do ativista, que comprovam que a decisão de atacar o baleeiro não partiu dele, e sim de um de seus colaboradores.
Os advogados também torcem para que a Dinamarca, que nunca extraditou ninguém para o Japão, queira se livrar da batata quente de ter que contrariar o pedido japonês de extradição, delegando a decisão para a corte da Groenlândia, que pode simplesmente manter Watson na prisão onde ele está – o que seria bem melhor para ele do que em uma penitenciária do Japão, onde Watson é visto como um eco-terrorista.
“É pura vingança”, diz em entrevista ao Uol
“É pura vingança”, escreveu Paul Watson, em uma entrevista exclusiva que deu, por escrito, de dentro da prisão, à coluna Histórias do Mar, da Uol, quatro dias atrás.
“O Japão também quer me prender para inibir futuras ações contra os seus barcos baleeiros, mas isso irá continuar, esteja eu livre ou preso. A minha prisão já gerou uma pressão mundial enorme contra eles”, diz Watson, na entrevista.
Nela, o ativista também diz que “vê os tribunais como uma extensão das suas batalhas no mar, em favor da proteção das baleias” e que “sempre tenta tirar coisas boas de situações ruins, como esta agora”.
“Em 1776, o escritor inglês Samuel Johnson escreveu que estar em um barco era como estar na prisão, só que com grandes chances de morrer afogado. Como a prisão de Nuuk não oferece esse risco, eu posso seguir comandando a campanha contra a caça japonesa às baleias da minha cela. A prisão pode ser, agora, o meu novo navio”, escreveu, bem-humorado, acrescentando que “ser ativista significa correr riscos, e que está habituado a isso”.
Teme vingança também da Dinamarca
Por outro lado, Watson também escreveu que teme que os dinamarqueses possam estar dispostos a colaborar com os japoneses, “por conta da minha longa oposição ao abate em massa de baleias-piloto pelos habitantes das Ilhas Faroe, que também pertence à Dinamarca”. Neste caso, seria também uma espécie de vingança.
E concluiu, na entrevista: “Nunca tive medo de ser preso”.
Vídeo com famosos na internet
Enquanto isso, no Brasil, os correligionários de Paul Watson seguem conclamando os brasileiros a protestarem contra o pedido de extradição do ativista para o Japão, por meio de manifestações públicas (como as que ocorreram em São Paulo e em Brasília, na semana da sua prisão), e da coleta de assinaturas em uma petição direcionada ao governo da Dinamarca, já assinada por mais de 100 000 pessoas, no mundo inteiro. (clique aqui para assiná-la também).
Nesta segunda-feira, artistas brasileiros (como Xuxa, Angélica e Fábio Porchat) e formadores de opinião também expressaram suas indignações com a prisão de Paul Watson através de um vídeo que começou a circular nas redes sociais.
Quem é Paul Watson?
Considerado o mais radical ativista ambiental dos mares do planeta, Paul Watson é um conservacionista controverso, dono de postura sempre firme em favor da proteção dos seres marinhos, e por isso mesmo já condenado a prisão no Canadá, Noruega, Alemanha, no passado.
Por outro lado, já recebeu inúmeros prêmios de reconhecimento da comunidade ambientalista internacional, como o Prêmio Júlio Verne, antes só concedido ao francês Jacques Cousteau, além de ser incluído para sempre no Hall da Fama dos Direitos dos Animais, por suas contribuições para a preservação das espécies marinhas.
Já, para os demais ativistas – como a brasileira Nathalie Gil, da Sea Shepherd Brasil, que foi para Nuuk acompanhar de perto o drama do colega -, Paul Watson é “um exemplo de abnegação à causa das baleias, que não pode ser abafado em uma prisão japonesa, onde as condições ferem a dignidade humana”.
O que está por trás disso?
Por trás da reativação, pelo Japão, do pedido de prisão de Paul Watson está o novo e maior navio baleeiro japonês já construído, o Kangei Maru, capaz de capturar baleias de espécies maiores, aumentando assim a lucratividade do negócio.
Por enquanto, o novo navio está atuando apenas no mar territorial japonês, mas os ambientalistas temem que ele seja levado para a Antártica, maior reduto de baleias do mundo.
Foi para tentar evitar que isso aconteça que Paul Watson estava levando o seu barco para o Pacífico Norte, quando foi preso, no final de julho, na Groenlândia.
O objetivo da viagem era monitorar o novo baleeiro japonês, que só na sua expedição inaugural capturou nada menos que 15 baleias, como pode ser lido clicando aqui.
“Quando comecei minhas ações, em 1974, meu objetivo era erradicar a caça às baleias. E ainda espero fazer isso antes de morrer”, diz Paul Watson, cujo futuro, no entanto, poderá depender do que for decidido no julgamento de hoje.
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