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Biólogo do Parque Nacional das Emas escreve poema sobre a destruição da natureza

“Súplica Naturalista em Sol Maior”

Kennedy Borges

Especial para o Jornal Opção

Pequenos seres dotados de sapiência

Sois “sapiens” só no nome de sua espécie?

Pois a todo lado mirado

É só destruição que cresce.

É desmatamento, é queimada

É veneno, é mercúrio, é doença, é fumaça.

É falta de mato e guanchuma

Lianas potentes na beira das matas

Cipós retorcidos, árvores se indo.

Li um dia uma poesia

Que dizia:

“O Brasil é uma República federativa cheia de árvores e gente dizendo adeus…”.

Picapau do Cerrado, no Parque Nacional das Emas, em 2023 | Foto: Euler de França Belém/Jornal Opção

Mesmo assim, tocado pela frieza e simetria

Acreditar não queria

E, mesmo não acreditando,

A realidade me perseguia:

Tudo que o diesel move

Traz destruição e regresso

Pois dinheiro não se come

E produção sem distribuição

Causa retrocesso.

Talvez sejam os Dinossauros do passado

Cobrando seu preço!

Fato é que a Natureza

Está sendo destruída, dilapidada, vilipendiada

Em nome da ganância de alguns.

Pássaro no bem preservado Parque Nacional das Emas | Foto: Euler de França Belém/Jornal Opção

E a cada ano percebemos

Que os eventos climáticos

Estão muito mais extremos

E não há como negar

Frente a atitudes insanas

Enchentes, queimadas, frios, quenturas,

Mormaço, inferno, desventuras…

Todos clamam por chuvas

Atrasadas nesse ano

E o homem, esse insano

A tombar florestas continua.

E ao Buriti que eu ia

Em tardes quentes do Cerrado

Onde havia recíproca companhia

E um falava, o outro ouvia…

Peço-lhe minha humilde desculpa

Pelo fogo que lhe queimou até o talo

E eu não tive chance para salvá-lo.

Está morto meu nobre amigo

Que tantas vezes dividiu comigo

Tardes de pores-do-sol

E manhãs de “sunrise” e neblina.

Não trará mais os seus frutos

Para alimentar as Araras e outras faunas.

Bem ali, logo na esquina

Ouço gentes confabulando

Dizem que está muito quente

Mas assim mesmo seguem andando.

Sem ação, sem compromisso

E apenas vão levando…

Oh! Natureza, única deusa palpável

Como é que se abre a cabeça

Dessa humanidade?

Para que esta lhe seja

No mínimo, mais amável.

Cada vez que é destruída

Encurta-se muito o caminho

De toda e qualquer vida.

Não, não há mais tempo

Prepare-se para a despedida!

(Pós-fogo) — 06/09/2024

Kennedy Borges, biólogo, músico, fotógrafo e analista ambiental do ICMBio, é coordenador de Pesquisa e Visitação do Parque Nacional das Emas.

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