Lição de Pablo Marçal para o Professor Alcides: não fuja dos debates
Candidato a prefeito de São Paulo, Pablo Marçal, do PRTB, apanha e bate na mesma proporção. Trata-se de uma espécie de político teflon: nada gruda nele, até o momento. Falam de suas “ligações” com o crime organizado, do fato de ter sido condenado à prisão (a pena prescreveu) e de ter amealhado uma fortuna, em tempo recorde, sem grandes justificativas.
Pablo Marçal aprendeu uma coisa que funciona na política: a melhor defesa é, por vezes, o ataque. Quando “apanha”, notadamente sobre a suposta ligação com o PCC — alguns de seus companheiros de viagem efetivamente não são flores cheiráveis —, o postulante, no lugar de apresentar um esclarecimento preciso, metralha seu crítico.
Como não se apresenta como político, por ser um outsider, Pablo Marçal bate nos políticos. Como se sabe, criticar políticos é, depois do futebol, o esporte preferido dos brasileiros. O ex-coach não se intimida, aparenta calma e opera para desmoralizar aquele que o criticou.
Mas qual é, de fato, a grande “lição” de Pablo Marçal? Sobretudo, participar de todos os debates e de não se intimidar com as críticas mais duras. Numa espécie de efeito esponja, ele absorve as críticas e as devolve como pedradas, às vezes certeira, nos seus oponentes.
Ao não fugir dos debates, e ao responder com habilidade às críticas, Pablo Marçal desconcerta os adversários. José Luiz Datena, do PSDB, colocado no palco da política para surpreender, até porque não era político, acabou surpreendido pelo adversário mais jovem. Agora, quando apontado como “fujão”, comporta-se com extremo nervosismo. Noutras palavras, o jornalista se torna instrumento do jogo do candidato do PRTB.
Datena é jornalista, apresentador de telejornal sensacionalista, mas, confrontado por Pablo Marçal, tem se comportado como amador. Adora espinafrar, mas agora está sendo esculachado no seu elemento, a televisão.
Guilherme Boulos, do Psol, mesmo com orientação altamente profissional articulada pelo PT do presidente Lula da Silva, também tem sido absorvido pela retórica de Pablo Marçal. O psolista é visto como crítico contundente, mas tem sido colocado na defensiva. Há um aspecto favorável: está sendo reforçada a imagem de que, de radical, se tornou moderado e realista. Firma-se também como autor de propostas pé-no-chão, sem as pirotecnias do rival.
O postulante da esquerda parece irritado quando é chamado de “Boulis” por Pablo Marçal. Trata-se de uma crítica à linguagem “neutra” dos tempos modernos.
Há outro aspecto: Pablo Marçal, ao mesmo tempo que ataca e desconcerta seus rivais, apresenta propostas para gerir São Paulo. Pode-se discutir a viabilidade delas. Mas o candidato conseguiu “associar” ataques e propostas. O que prova que está sendo bem orientado por sua equipe de marqueteiros. Diz-se que o principal orientador do postulante é ele próprio. Pode ser.
Os adversários de Pablo Marçal comportam-se como “seres autênticos” — pessoas de carne e ossos. Ao contrário, o candidato do PRTB “atua”. Quer dizer, é um ator eficiente.
Telequete de Pablo Marçal e Tábata Amaral
Ressalte-se que, se não desconcerta Pablo Marçal — espécie de lutador de vale-tudo da política —, a deputada federal Tábata Amaral, do PDT é a única candidata que não é “absorvida” pelo rival
Tábata Amaral critica Pablo Marçal duramente, sem papas na língua, e, igualmente, apresenta suas propostas.
Por que Pablo Marçal não tem um antídoto contra as “picadas doloridas” de Tábata Amaral? O candidato do PRTB receia atacá-la, de maneira extrema, por que a postulante do PDT é mulher? Possivelmente.
Mas talvez haja outro motivo. Ricardo Nunes, Guilherme Boulos e José Luiz Datena, quando criticados por Pablo Marçal, ficam com cara de Pedro de Lara. Como se sabe, Pedro de Lara era um jurado mal-humorado do programa de Silvio Santos, do SBT.
De certo modo, com seus mísseis desconcertantes e de longo alcance, Pablo Marçal retira a roupa de Ricardo Nunes, Guilherme Boulos e José Luiz Datena. Mas não consegue abalar e desarmar Tábata Amaral.
A deputada não se intimida e bate duríssimo em Pablo Marçal. Parece calma. Quando apresenta as denúncias contra o ex-coach, Tábata Amaral deixa a impressão de que está lendo uma notícia no teleprompter, como se fosse apresentadora do “Jornal Nacional”. Por isso, se não o desconcerta inteiramente, deixa Pablo Marçal meio atrapalhado.
Assim como Pablo Marçal, a jovem Tábata Amaral “atua”, comporta-se como atriz. No momento, os dois são o diferencial da política de São Paulo.
Guilherme Boulos, que era outsider antes de subordinar-se ao PT de Lula da Silva, era diferente, mas, no momento, está parecido com Ricardo Nunes e com José Luiz Datena. Quer dizer, se tornou, dada a pressão de Pablo Marçal, um político mais ou menos tradicional. Pode ser ruim? Talvez seja positivo, porque, vale insistir, reforça a imagem de que se tornou moderado, uma espécie de Lula da Silva mais jovem.
O candidato do Psol equivoca-se ao sugerir que Ricardo Nunes é “igual” a Pablo Marçal. A crítica acaba por não atingir o candidato do PRTB, porque são realmente diferentes. Entretanto, ao puxá-lo para a vala comum, o candidato do Psol contribui para prejudicar a imagem do prefeito de São Paulo, mas não a do ex-coach.
Por que as críticas dos candidatos a prefeito de São Paulo não conseguem atingir Pablo Marçal? Porque são formuladas de maneira tradicional e, por isso, logo são absorvidas pelo “ator” do PRTB.
De alguma maneira, Pablo Marçal está se alimentando das críticas feitas por Ricardo Nunes, Guilherme Boulos, José Luiz da Datena e Tábata Amaral. Por isso, quem sabe, está ficando mais forte. Os marqueteiros dos quatro candidatos precisam reavaliar o “sistema” de petardos que montaram. Porque não está funcionando. Só funciona com Tábata Amaral, e ainda assim parcialmente, porque, insistindo, ela se comporta como fosse uma jornalista — e “atriz” — e bem menos como candidata.
Tábata Amaral bate com firmeza em Pablo Marçal, imitando-o. Quase sempre, ambos não apresentam provas do que dizem. A deputada entendeu o jogo do empresário e, por isso, não usa luvas de pelica quando o critica.
Antes de desconstruir o político Pablo Marçal, seus adversários precisam entender se é possível desmontar um personagem. Se insistirem com a denúncia de que o candidato do PRTB é ligado ao PCC, sem a apresentação de provas cabais, acabarão por se tornar “alimento do crescimento” para o ex-coach.
Ante as denúncias que estão sendo formuladas, a Justiça Eleitoral poderá retirar Pablo Marçal do páreo? Fica-se com a impressão de que seus adversários acreditam nisto. Se continuar na disputa, ele tem condições de ir para o segundo turno em primeiro turno. Com a possibilidade de unir as direitas, se não for arrancado da disputa, pode ser eleito prefeito de São Paulo, a maior e mais rica cidade do país.
Pablo Marçal é uma reinvenção do bolsonarismo? Talvez seja o bolsonarismo sem nenhum limite. Mas uma coisa é certa: pegou Jair Bolsonaro e os bolsonaristas de surpresa. É um candidato, talvez seja possível dizer assim, inventado pelos tempos modernos da internet. Um filho das redes sociais, sem intermediários. Bolsonaro pouco entende da mecânica das redes sociais e, por isso, precisa da orientação de Carlos Bolsonaro, seu filho mais antenado com a comunicação da internet.
Professor Alcides e a fuga dos debates
No interior de Goiás, há políticos que, como são líderes nas pesquisas de intenção de voto — caso do deputado federal Professor Alcides Ribeiro (PL), em Aparecida de Goiânia —, estão fugindo dos debates, sabatinas e meras entrevistas. Estão agindo errado? Na verdade, estão equivocados. No caso do político da cidade conurbada com Goiânia conta-se que não segue orientação de marqueteiros. Pelo contrário, fugir dos debates seria uma decisão exclusivamente sua. Corre o risco de dormir líder e acordar derrotado.
Os eleitores não perdoam candidatos que fogem do debate. Por vários motivos. Primeiro, porque entendem que os candidatos não querem falar com eles, menosprezando-os. Segundo, porque os eleitores gostam de observar o candidato, de vê-lo falando, sobretudo quando lhe é apresentado o contraditório. Terceiro, os debates e sabatinas são fóruns adequados para a apresentação das propostas. Quarto, nos debates ficam evidentes as diferenças entre os candidatos. Quinto, quem não participa dos debates e sabatinas talvez receie que algum segredo, quiçá escandaloso, seja revelado. Sublinhe-se: quem se esconde pode acabar não sendo lembrado.
Portanto, quando não vão aos debates, os candidatos estão desrespeitando, não os demais candidatos, e sim os eleitores. Os eleitores têm discernimento para saber se o que dizem os candidatos é verdadeiro ou falso. E, claro, o postulante atacado pode-se defender.
Digamos que um candidato seja acusado de pedofilia — um crime gravíssimo. O que deve fazer? Se for inocente, deve apresentar sua defesa, cobrar provas e, em seguida, processar os agressores. Frise-se que não se deve associar, de maneira automática, homossexualidade e pedofilia. Reforçar preconceitos contra homossexuais é, digamos assim, outro “crime”. Por isso, qualquer denúncia a respeito precisa ser individualizada e deve ser apresentada com o máximo de cautela.
Mesmo com a possibilidade de críticas duras, inclusive no campo pessoal — o verdadeiro político não teme críticas (note-se que Pablo Marçal, quanto mais apanha, mais cresce) —, os candidatos não devem fugir ao debate. Devem se apresentar e esclarecer todas as críticas e acusações. Não pode continuar observando os eleitores de longe. Porque os eleitores podem — aproximando-se — acabar deixando-os longe do poder.
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