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Protagonismo de pautas identitárias da esquerda prejudicou desempenho de Boulos no primeiro turno, avalia sociólogo

O protagonismo dado pelos partidos de esquerda às pautas identitárias prejudicou Guilherme Boulos (PSOL) no primeiro turno das eleições em São Paulo. A avaliação é do sociólogo Jessé Souza, professor da Universidade Federal do ABC. Jessé concedeu entrevista ao OGlobo.

Para o sociólogo, o “erro completo” fez com que Boulos tivesse menos votos do que a soma do prefeito Ricardo Nunes (MDB), dono da máquina municipal, e de Pablo Marçal (PRTB) em regiões da cidade que são historicamente de esquerda.

“O identitarismo ecoa na classe média e na elite, não no pobre, jogado na lata de lixo pelo preconceito racial e agora vítima de racismo cultural. Não se ganha eleição no Brasil sem o voto da maioria pobre e a esquerda precisa pelo menos tentar voltar a disputar este voto. Sei que vou levar cacetada, mas está na hora de o PT aprender com Getúlio Vargas”, disse.

“Não basta essa esquerda “legal”, que discute gênero e raça. Ainda importa contar ao eleitor por que um cidadão ganha R$ 100 mil enquanto outro R$ 100, por que há pessoas tão diferentemente aparelhadas para a competição social, para além das diferenças de gênero e raça. Se não perceber isso logo, a esquerda deixar este pobre na direita”, continuou.

Segundo Jessé, os candidatos da direita na capital paulista chegaram na frente nas regiões por conta do voto do “pobre de direita”. “Passamos por um processo de idiotização das pessoas e de inação dos que deveriam fazer um trabalho de base de qualidade. O quadro está dominado” pela Teologia da Prosperidade, neoliberal e reacionária”, afirmou ao OGlobo.

De acordo com o professor, a esquerda foi incapaz de conversar com esse público. “A esquerda errou, e muito. Não procurou, com louváveis exceções, conquistar os corações e as mentes dos mais pobres. Se você não apresenta nada minimamente organizado e sequer tenta ir às periferias urbanas e rurais, o trabalho das igrejas evangélicas, marcado pelo anti-esquerdismo, ganha sentido político ainda mais explícito. No vazio que foi criado pela falta de mobilização e disputa de narrativas, a esquerda perdeu campo”, explicou.

Jessé também explica que a direita faz com que o pobre acredite ser valorizado. “A chave, para a direita, é a de fazer com que o pobre se acredite valorizado, respeitado, quando antes era permanentemente humilhado, vinte e quatro horas por dia. Muitas vezes, literalmente, sem nem o nome do pai na certidão de nascimento. Ele aceita assim como possibilidade de salvação ser celebrado e reconhecido por ser honesto, “de bem”, poder vencer por conta própria”, diz.

Outro ponto citado pelo sociólogo é de que uma das consequências desta eleição é a multiplicação de candidatos como Marçal. “Marçal se tornou referência nacional e me chamou atenção a irmandade de sua visão de mundo com a da Faria Lima, uma aliança extremamente perigosa ao unir muito dinheiro a muita penetração popular. Ele será a cara do Brasil em um futuro próximo se nada for feito institucionalmente para garantir o cumprimento das regras democráticas”, afirma.

“Marçal precisa ser considerado inelegível após o que fez. Isso não evitará que outros candidatos sigam sua cartilha, mas eles precisarão serem mais cuidadosos, menos ameaçadores. E, com sorte, comunicadores com menos domínio do público”, continua.

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